segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pequena crônica poética – sobre o afeto

                                        ( minha pequena Corumbá de Goiás)


Por vezes era eu na sua pequenez,


nas ruazinhas tortas,

no desalinho da torre,

devagar entranhei em seus lugarejos,

tão meus ficaram os cotidianos.



As partes do corpo

foram sua exata medida,

pernas nos morros,

olhos esverdeados no verde ainda despido do cinza humano,

ouvidos nos zunidos das muriçocas ... nas alvoradas da banda

apenas um corpo.



No instante da divisão,

São dois pares de olhos

que se embaçam no abraço

comungado.

domingo, 2 de outubro de 2011

Ser- cuia

Sou cuia,
mulher cuia.

os anos amplificam meu estado côncavo,

em estado de quase transbordamento
somente o silêncio.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Pequena crônica poética – a que vela a cidade

Homens ergueram com suas mãos grossas,
paredes sólidas... de pouco prumo,
de pouco esquadro,
há séculos velam a cidade.

Por dentro balbucios ecoam,
no silêncio,
paredes sólidas,
guardam a fé dos homens
há séculos.

Há séculos,
o mistério é o mesmo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pequena crônica poética – a cidade em mim

A cidade me habita, sou em suas ruas,
casas, recantos...
sou em seus gestos rotineiros,
|por isso o aceno para o senhor a tomar sol|
Todos os dias são de revelação.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Síndrome Abaporu

Algumas vezes eu sinto
minhas extremidades
agigantarem-se,
inchadas por uso,
reclino na fadiga
cheia de gratidão.

sábado, 9 de julho de 2011

Pequena crônica poética – sobre o reflexo

O olhar alheio

de natureza dúbia,

perpassa a carapaça.

E quando a imagem reflete na retina,

por poucos instantes perco-me

entre a pálida certeza do meu ser,

e a sombra no olho alheio.

Iminências de não caber no mundo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pequena crônica poética – turvação atmosférica

Aqui há um rio,
a cidade passa pelo rio,

a manhã de julho
arrepia meus pêlos
os olhos se embaçam
na neblina ...
que pinta o rio no céu,
pintura que se sublima.
Espetáculo matinal.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Colóquio sobre o tempo

                                           (Para Patrícia)


Temo o tempo
Ladrão de minha feminina vaidade,
temo o tempo,
pelo constante atropelo,
temo o tempo,
pela fatalidade do senso comum
passa num piscar-de-olhos,
temo o tempo,
porque a elasticidade se esvai
mas dentro a dança é a mesma,
temo o tempo,
pela anestesia em minha memória,
temo o tempo,
por sentir a distância crescer
temo o tempo,
por tantas sofreguidões cotidianas
aspiradores de mim.
temo o tempo,
com o juízo sobre os verbos,
era, sou e serei.

Temo o tempo,
em oração.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pequena crônica poética – canteiro

                                                      ( Canteiro de obra como lugar cultivável ...sincero respeito
                                                                à todos que edificam e indignação compartilhada.)


Os olhos entupidos do todo dia,
da poeira, cimento e cal....
mãos obreiras
que lavram
o canteiro...
lavram com saber
testado e herdado.

Indigno-me das mãos obreiras
não adentrarem nos seus lavradios
quando na colheita.
obedecendo limites [in]visíveis.

Indigno-me com a cisão
da mão obreira com o fruto.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pequena crônica poética – partitura musical

No oco da pausa musical


habita o silêncio,

a nota é figura

de vibração.

Lanço-me em seus antagonismos,

em íntimo gozo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Objetos inexistentes – teoria das idéias

                            (Ao meu amigo Leandro )

Há o mundo das idéias,
suspenso ...
colóide que envolve
a pequenez do planeta Terra...
alastrando-se até o infinito,


então queria eu,
mergulhar a vara brilhante
pescador eu seria.

terça-feira, 10 de maio de 2011

( Retratos contados)

Mistério infantil

Meu pai me dizia:
- Fui um dia pegar girino
pra ver virar neném;
desapontado fiquei;
girino vira sapo.
Mas como fazia neném?
Por volta dos dezesseis; fui entendendo;
sobre o homem e mulher.

ps: um texto que encontrei em meus guardados... tem cheirinho de mofo!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Objetos inexistentes – fixador de atenção

Sinto que meus olhos

Despregam-se de suas obrigações,
Tantos estímulos,
Produzem aceleração do piscar.

Meu pobre olho
de natureza já titubeante
obrigado a este frenesi
de piscadelas
pouco captura.

Onde está o spray de atenção?
com efeito de descongestionante nasal.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Objetos inexistentes – alargador do tempo

O tempo tem atropelado
o corpo e a consciência
sinto falta da minha ignorância temporal,
em criança eu tinha um alargador de tempo
agora adulto com urgência
vejo que o perdi junto com
tudo que havia no faz-de-conta.

Os segundos
minutos,
horas,
semanas
meses
anos
escoam então
cada vez
mais
li-gei-ros
na ampulheta.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Objetos inexistentes - olfato

O olho olha,
A máquina rouba o olhar,
registra-o para além do tempo.

O nariz cheira,
Onde estão meus frascos de cheiros perdidos?
Memória olfativa.

Inspiro o mundo
Expiro o mundo
pra dentro das buretas.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Lição de culinária – empadão goiano

Dentro ali da cozinha,
os odores fumegantes
nas panelas.
Alegria quente,
Alumbramento no mistério
de abrir a massa
(de farinha e água)

Forrar a forminha
(já de família)
rechear.
Alegria quente
Quando a mesa posta.

Agradecimento silencioso.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

As coisas que não pintei

“Oh, meu Deus”

No cansaço
Este silêncio cheio de tijolos.
Escapo por entre a fenda,

me dá pena não pintar
seriam azuis os girassóis.

Atravesso a fenda,
me canso de ser onipotente
no pequeno quarto.

Fico escutando borburinhos.

Lentes oculares

Poesia é coisa de dentro,

é sempre de pronome reflexivo,
prosa?
corre do lado de fora
usa binóculo.

Ainda uso somente óculos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pequena crônica poética - anúncio mortuário

            (da vigilante igreja)


Os alto-falantes amplificam

a sentença da mortalidade humana,

perturbo-me,
porque parte de mim compreende a finitude,
e a outra parte,
se cala perante o medo da dor.

sexta-feira, 18 de março de 2011

um poema deve ser como uma pérola

poesia
como
destilar o
pó&cia.


para Raquel Beatriz.


ps::: porque presentes a gente leva pra vida ....obrigada Henrique!
vejam em :    encurtacao.blogspot.com

quarta-feira, 16 de março de 2011

Amor miudeza

                                     (ao  miúdeza)

Nossas pequenas miudezas...

miudezinhas,
ficam aqui trepidando
tão fortes.

Miudezinhas, miudezinhas...
conduzem sempre
ao secreto nós,
onde há desde a estridente gargalhada
ao silêncio profundo do olhar.

Miúda grandeza.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sobre a saudade

                                                 ( há sempre o sentir falta que tanto espaço ocupa)

Percorro o exílio

Próprio do homem,
Exílio geográfico
Que torna tão absurdamente presente
           A ausência

Por momentos perco a compostura,
e desprendo a carapaça.

Percorro o exílio
Próprio do homem.
Expulso do paraíso
Impelido a viver
Exilado em si
Levando a vida
nos dois ombros.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Pequena crônica poética - Pouso da Penha

Certas cidades,
Guardam as coisas pequenas
Extremamente raras que devido ao cataclisma moderno
Seguem cada vez mais rumo à extinção por falta de uso.
Há por isso sempre um susto
Em retirar aquela grande chave
Por debaixo da porta

Abrir,
Fechar,
Entrar
e novamente colocar na frestinha.

Assim permanecem as portas sempre abertas.

Uma coletânea

O Desacanhamento poético virou um pequeno ebook... tentei organizar a produção ao longo desses dez anos! É algo pequeno, mas uma forma de ...