sábado, 3 de novembro de 2012

A origem poética


                 ( inspirado em Ferreira Gullar para Paulinha Tavares)
                         
Poesia é espantamento,
espanto de todas as naturezas
              que o homem carrega.
              todos os sinônimos e antônimos.
E o poeta pergunta porque serão fados os versos?
             as tristezas amofinam o corpo | destilação instantânea.

Se fado sempre | poeta se enfarda .

            Alegria é tão brejeira
           que o corpo se alarga | destilação de difícil captura.

Se alegria brejeira | poeta estira na rede.

sábado, 8 de setembro de 2012

Pequena crônica poética - Cidade solitude


As montanhas fecham a cidade
eu me fecho por entre as casas baixas
na mais completa solitude
em  diálogos imaginários.
Na cidade solitude habito sempre o  meio,
no espaço reduzido da quadricula quarto
a vida alheia invade tênues demarcações do território.
Espreito as domesticidades vizinhas
ciente de pairar por sobre as coisas da pálida cidade.
por sorte na cidade solitude é possível abrir a fenda em si mesmo,
com toda a dor.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sobre as secas e agostos


Agostos ácidos,
com a terra abrindo-se em veios,
colorindo o céu de ocre,
sob tempestades vermelhas.
O verde esmaecido,
Todas as naturezas derretem
na torridez do sol,
amarelos, roxos
irrompem por sobre o ocre,
em meio ácido.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Linguística


Eu trago uma língua que roça
a garganta,
consoante espremida pela glote
todas as vezes vibra no ar com mansidão
a língua roça;
por vezes volteia
faz tudo ficar assim miúdim...

A língua que roça
faz certos jeitos no sentir,
que se emaranhou em mim.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Fuga




Sobre a mesa,
Contas, extratos de banco, escritos, livros concretos, coisas inacabadas, deveres, listas,  tudo tão útil.

Na rua,
Volúpia poética
Coabitando com o inacabado.
em estado de euforia.

domingo, 24 de junho de 2012

A chave do jardim secreto


Perdi a minha chave? Durante esse primeiro semestre faço essa indagação, com alguma “estranhez” meu jardim secreto tornou-se inacessível. Então o mundo externo que tantas vezes é tão fatigante cresce em mim e aspira meu pequeno universo.
Em criança recordo-me do deslumbramento diante do livro grande com bordas douradas era a obra completa do Monteiro Lobato, carregava o bendito para todos os lados. O Sitio do Picapau Amarelo foi meu primeiro reino encantado, foi com ele que fui a Grécia e descobri que as estatuas tinham cor, assisti ao por do sol de trombeta e aprendi que todo o texto quando não sabemos mesmo como começar é só encher de seis grandes interrogações ( hoje compreendo que é a interrogação será sempre constante). Emilia, boneca meio gente, cedo compreendi que ela era o porta-voz do escritor oculto.
Depois do Sitio do Picapau Amarelo vieram outros reinos: O jardim secreto, País das Maravilhas, Terra do Nunca, Pais dos espelhos, As casas de Laura  Ingalls, o mundo de Sofia, a dor real de Annie Frankie e outros que minha memória desbotou seus tons.
 Revisitei Alice no País das Maravilhas a história é a mesma, mas os nuances são diferentes quando o olho amadurece é impossível não se admirar com a existência de um cogumelo que faz crescer e diminuir. Hoje percebo que na vida adulta as pessoas escolhem seus “cogumelos” vestindo seus tamanhos de pequenez ou grandeza e compreendo a extrema importância de se ter a medida exata. E o tic-tac do relógio do coelho a lembrar: estou atrasado... estou atrasado é sempre essa corrida maluca que nos propomos para dar conta das inúmeras exigências ( pagar contas, ganhar o dinheiro, ser bonito, inteligente, líder, estudar, trabalhar são tantos verbos).
Quando relembro a capacidade de admirar a fantasia não é em tom de escapismo é a certeza de que destituída da chave que abre o jardim secreto existo pela metade. E à medida que as exigências reais crescem mais a chave emperra na fechadura e o temor de que o reflexo do espelho seja a caricatura da mulher “ modus operandi” que nada admira, nada sente, nada vê, nada transforma, nada imagina é muda.
Já velha descobri o mundo de Nárnia meu atenuante no período “modus operandi” e com sintoma de mudez poética-patética. Impressiona a riqueza da descrição das terras narnianas e toda a alegoria utilizada pelo autor para falar de coisas de coisas tão complexas como o poder, tirania, antagonismo entre o mal e o bem, as trapaças em busca de poder (muitas vezes tomamos como o detentor do poder um burro travestido de pele de leão)[1]. Lewis em um texto final chamado Três maneiras de escrever para crianças discorre sobre os livros de fantasia e diz que ao final muitas vezes eles propiciam ao leitor a ampliação e compreensão dos sentimentos humanos para ele a fantasia perigosa é aquela superficialmente realista quando as histórias passam a tratar dos anseios puramente materiais ( enredos com  beldades, dinheiro etc.) estreitando assim a formação do caráter infantil.
Recuperar a chave perdida do jardim secreto será a missão particular porque é preciso adquirir novos sentidos sobre nossa humana condição.



[1]  Veja em a Última Batalha.

domingo, 17 de junho de 2012

domingo, 29 de abril de 2012

Seara do poema


(Para Diogo de Lima)

O poema é estado gestação,
Cresce por dentro...
Vagarosamente

            Cá dentro
            A matéria bruta
            e o intangível
            Transfiguram-se.
            Por inaptidão
            (das terminações nervosas)
            de apreender o sentido do óbvio,
           
o poema é a libertinagem das palavras,
e todo parto é contração dolorosa
(ainda que cheia de gozo)

            Após o parto pertence ao outro,
            libertino que é,
transfigura-se outra vez.


sábado, 7 de abril de 2012

Do entorpecimento da amizade

Do entorpecimento da amizade
[p/ Raquel Beatriz]

Algumas pessoas
Permanecem

com m smo súb to


qu esqu c mos

de quando
de quando
de quand?

o pr mei o

en ntro
 
 
ps::: presente meu em:::http://paulinhatavares.blogspot.com.br

sexta-feira, 30 de março de 2012

Pequena crônica poética – versos crescentes

                               (Para Karine Oliveira)

I

As ruas aqui cheiram,
Aquele cheiro de coisa guardada,
no oculto da noite.
Narinas ébrias.

II

Sinos dobram
ecoam no meu silêncio,
olho fulgura nas tochas,
o homem criando seus espaços de Deus.
desde de sempre.

III

Desconcerto,
por trazer essa centelha
Humana
de puro mistério.
Medo,
da brevidade.

IV

Tempo,
noto seus volteios
nos cabelos gastos.
Há sim certo incomodo
por saber que o corpo não me pertence,
Mas pungente é a constância
do estado interrogativo.

domingo, 4 de março de 2012

Pequena crônica poética – ruas


Os pés saltitam por sobre
As calotas pétreas,
Se chove,
As pernas se projetam,
em salto,
sobre a capistrana cheia de água.
Todo vilaboense deve ter algo
Entre bailarino e acróbata.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Sobre a mulher e o casulo



                        ( para todas as mulheres amigas de minha vida)

Entre si |elas| criam casulos.
Mulheres enredam suas relações,
Teias cúmplices de dividir lágrimas;
alguns segredos e pequenos delitos . |conspirações|
Há sempre um pouco de desnudamento
Uma frente à outra.

Cada casulo tecido
Tem seu antagonismo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Fragmento sobre o silêncio


Ensurdecedor é o silêncio que me habita; ocupa todos os espaços. Ciente do silêncio que me pertence em minha total condição humana passo a maior parte dos dias iludindo-o com afazeres em constantes dribles. Agora confrontada não sei reagir, perco a vaga noção de controle do tempo que se desmancha em grandes fatias que de forma tão inútil procuro ocupar. Tento conter as ânsias e o silêncio tem ainda mais volume que a música e ao longe a chuva pinga por sobre a calha. Tendo a aguda percepção que destituída de todas as infindáveis listas de obrigações resta o silêncio que punge meus sentidos; é então tão inútil a luta vã. Queria sentir o riso fácil, mas hoje é só isso, tudo escapa de dentro pra fora e esse escopo que tenho de mim esvai-se em sombras com tudo o que lhe dava nitidez de contorno ( a vida, o cotidiano, a vontade de ser) apenas o borrão no espelho com a fumaça quente do banheiro. Tantos anos na tentativa de preencher para que por instantes seja somente o silêncio em sua gruta de vazio em mim.

Tão débil a linha de meu contorno.

Uma coletânea

O Desacanhamento poético virou um pequeno ebook... tentei organizar a produção ao longo desses dez anos! É algo pequeno, mas uma forma de ...