sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Pequena crônica poética – a cidade que esmaece

Outra vez em dezembro:
dias alagados.
Os densos vapores esbranquiçados
cada vez mais pesados
 descem vagarosamente de altitude.
Em véspera natalina
pairam sobre a cidade que se torna esmaecida,
olhos identificam vagamente as coisas
apenas os piscas-piscas tremulam com vaga certeza.
[como faróis a luzir]
Lentamente os contornos nítidos retornam,
Mas ao forasteiros olhos, a cidade e os resquícios da pompa de outrora
serão cada vez mais esmaecidos pelos anos.

O azul-mar-nascente dos seus olhos,
Retém o passado.
[tão nítido].
Ouviria as suas falas por horas a fio.
Porque o tempo avoluma os pertences,
o azul-mar-nascente dos seus olhos
vai desligando o presente.

Outro dezembro 
por vezes dissolvo como torrão de açúcar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Instruções do olhar

Olhos poucos para grandezas,
miopia do olhar
adquirida em tenra idade.

Esses modos de ver
quando criança
criavam coisas cheias de mundos.

Inabilidades adultas
são efeitos colaterais.
Incuráveis.

A reta, curva, direita, esquerda, pontos cardeais
Poderiam indicar o caminho.
A flor abriu... Já não apreendo o mapa.

Ineficácia com objetividades,
Manuais práticos, essas coisas amplamente disseminadas.
pouco contidas em mim.




domingo, 7 de setembro de 2014

1.    Poesia é palavra cansada da rotina

2.     Poema fica dependurado
Suporte analógico ou digital
cada um põe o seu onde quer
[ no box do banheiro vira esmaecimento]

3.Poesia dependurada :
saldo devedor
atordoa .
Deito os olhos, ela chama
viro de lado, ela cutuca
nada pode contra.

4.  Origem da poesia:
não identificada.
Acontece da poesia solta na rua
passar perto,
ser capturada no papel.
[ sem nenhuma coincidência com a vida real]

5. Poeta é desenhista da palavra,
tentativa de colocar ângulos.
não percebidos.
palavra esboça coisas.




sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ensinamentos antoninos

Antonino de puro cerne
ensinou-me
entre duas pessoas
deve caber certos silêncios
medida para o amor.

De tanto saber de árvore
Adquiriu modos de carvalho,
[esses modos que a gramática não ensina
vem vindo com o sentimento.]

No seu ofício
traçava nos papeizinhos
com minúsculos lápis
todos os detalhes.
Jeitos de aprender na mente
rigor milimétrico.

Por ser um pouco árvore
guardava a fé
oração tão grande
ia pondo as gentes nas contas do rosário
silenciosamente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Colóquio infantil

( para Vilma)

Havia a mulher que detinha os poderes da cria,
as escadas chegavam ao reino.
Das mãos esticou a grama,
pelos pés brotaram os coqueiros.
Todo seu corpo ficava desenhando criações
( muitos ajeitamentos)
sua voz virava arara
ou outro bicho de asa.

Os coqueiros muitos
Rebrilhavam o sol nas folhas.
( não se usava despertador nesse reino)
Certos jeitos do sol bater
falam para os olhos abrirem.

Todos os dias deveriam ser sábados
(as folhas brilhariam para mim).

Certo dia,
menina desce a escadas
olha e sem nenhum espanto:
- Há criaturas também na cozinha?


Sim, sempre há criaturas por onde a mulher cria passa.

sábado, 2 de agosto de 2014

Astronomia da criança

                                   ( para Jamária )


Tão extensa  à noite para meus adultos olhos,
cabe sempre o espanto em cada mirada
meus adultos olhos compreendem vagamente
corpos celestes, estrelas mortas, via láctea, satélites, translação, rotação.

Nos pequenos olhos infantis
espanto, diante do negro salpicado de pontinhos brilhantes,
vira certeza após testes de mudança de direção,
- Mamãe a lua me segue por todo o mundo!
e os dedinhos em riste pleno de certezas.


Meus olhos adultos esquecem todas as constatações cientificas. 

domingo, 22 de junho de 2014

Pequena crônica poética – fogos

Crepita a lenha
estalos da combustão
Mãos erguem o mastro
        Rodilhas de fitas coloridas
        varal de bandeirolas abrigadas pelas estrelas juninas


o boi de chitão
corre pela praça
ê ê ê boi
alguns pequenos choram sobressaltados.
o tempo contará sobre a natureza do boi.

        Canjica de tacho
        pipocas em estouros
       
quando tudo acabar
aquela certeza das coisas que se repetem
ano após ano.




quarta-feira, 18 de junho de 2014

Bodas



Guardo os meus ‘’sentires’’
em espera ansiada

Em bodas
(palavra que solta espumas pela boca)

Dia de sol todo feito de amarelos reluzentes,
Azul de brancas nuvens.

Temperatura quente em cada abraço,
Casulos de corpos e afetos.
(afetos nem sempre presentes em pele e osso)

Provável que não chova em novembro,
Mas é certo das águas salgadas, no terreno de minha face.
Pode ser que vapores esfumacem seus óculos.

E quando todos se forem,
O seu ombro será repouso.


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Pequena crônica poética – hidros nº 02

Cidade pompa
Exibe o corpo para o olhar estrangeiro.
despudor.
No topo, torres vigiam
a parte baixa.

Na parte baixa
ruas exibem os sentidos do corpo.
Os corpos deitam sobre as águas do rio.
Efervescência.


Rio das almas
|todo pudor|

Rio das almas...
| todo prazer|.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Pequena crônica poética – hidros nº 01

 O curso da água desenha a cidade.
Deito meu olhar sobre os rios

nomes próprios em cada curso

lá na cidade de pedra
o rio divide
o lado de lá
o lado de cá,

                forte em suas arrebantações
                pouco sobra das coisas dos homens.

na cidade de pedra o vermelho esparrama-se em reinado.

Uma coletânea

O Desacanhamento poético virou um pequeno ebook... tentei organizar a produção ao longo desses dez anos! É algo pequeno, mas uma forma de ...