sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Louca

Porque de tempos
em tempos,
os anelos
me tomam,
o corpo ondula solitário
na música.

São os anelos rompidos
que ajudam a carregar
a severidade da vida

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Embornal da saudade

                    Homenagem aos amigos nativos ou não de Uberlândia, a enorme falta!


No princípio eram as ânsias,
mas
quando os olhos se abriram de
             estatalar
foi o
     susto,
e o olhos estalados de susto,
viam as compridas avenidas,
os ônibus aboletados,
as lojas,
o ir e vir,
e tudo tão grande.


Ainda cheio de susto,
foram adentrando
as marias
e joãos,
e então o susto
apavorou-se.
E quando ensaiva a volta
as marias
e joãos
eram só abrigo.
E assim tudo ficou familiar,
de tal jeito,
que todos os dias
são estes agudos no peito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

poema parasita 2

No setembro
tem chuvas.
Nas chuvas
brotam cigarras.

por sua vez,
cigarros
, nas chuvas,
desbotam,
impotentes.

Cigarras
cigarilham
estridentes
dentro
dos meus
orifícios.

e, nos meus,
flutuantes,
cigarros aniquilam
dentifrícios.

ci ga rra
ci ga rra

e..s...f...u..m...a..ç..a...

Nome, som
incrustantes.

nome, som
deteriorantes.

*Porque o amigo poeta Henrique Vitorino, inventou essa história no seu blog: http://encurtacao.blogspot.com/

os versos em azuis são dele ...uma licença de cor

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Herança

Há o que se dizer da religiosidade da família
os avós tiveram
a maria que ficou sendo do carmo
explicitando, não uma maria qualquer

e a outra, uma profusão
azul celeste
que é maria
de todos os santos

ela em todo seu impressionismo
confiou sua prole
sob a proteção
da santa beatriz
e são judas tadeu

Amém!

domingo, 18 de outubro de 2009

Ecdise

Há dias de suavidade
Em que todos os sentidos
Desabrolham-se.

Outros de total aspereza,
ecdise sentimental.
Em que o envoltório de mim
é couraça impenetrável,
feito de densas arrebentações
não há o que fazer.

Somente esperar o fim.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Chuvas

No setembro
tem chuvas.
Nas chuvas
brotam cigarras.
Cigarras
cigarilham
estridentes
dentro
dos meus
orifícios.

ci ga rra | ci ga rra

Nome, som
incrustantes.

ps: há tempos a palavra e o bichinho me perseguem, especificamente as 11:00 hs, quando passo para ir almoçar...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pirimpolar

Chuva miúda pirimpola
nas sombrinhas,
telhados,
ruas,
gentes
Pirimpolam em tudo.
Se cresce,
revira pelo avesso.

domingo, 20 de setembro de 2009

O Tiozim pescador

Do menino-pai, face obscura que só conheço por alguns causos a mim contados, em primeira ou terceira pessoa. De alguma certeza é que cresceu numa fazenda, anos mais tarde vivenciada por esta narradora explícita inexperiente no processo de alinhar as frases uma atrás da outra.


O fato é que o menino-pai tinha um cachorro destes sem eira, até seu nome era vagabundo Tiozim, porque o pai-grande não se lembra o nome dele acha que era este mesmo, só tem certeza que o bichinho não tinha pedigree. Tiozim seguia o menino-pai, onde ia o Tiozim estava atrás. Como o pai-adulto disse:

- Meu companheirão!

O menino-pai cedo, mostra forte aptidão para as artes da pescaria, sendo esta vocação natural motivos de muitos ralhos e até umas palmadas, o pai-grande diz:

- O povo antigamente era muito sem jeito.

Nas fugas pra pescar, lá estava o Tiozim, que logo aprendeu a entrar na água para se refrescar e abanar o pelo. Tiozim fica quieto a observar a água, menino-pai fica encucado com aquilo e lança o anzol onde o cachorro olha. Espera... espera e então? Treme a linha do anzol, puxa a traíra...

Menino-pai que não era bobo sempre levava o Tiozim pra pescar, onde olhava era batata! Tiozim acompanhou menino-pai que logo cresceu e se foi pro mundo. Tiozim ficou no coração do pai-grande.

domingo, 23 de agosto de 2009

A caixa

Fito as imagens,
que fixas só me fingem
retribuir.
Deleito-me com os instantâneos
Perpepasso todo meu ser
em cada momento encapsulado,
para isto que se denomina
posteridade.
Alguns poderiam ser destruídos
em ato de amnésia.
Mas não há jeito ou forma
de fazê-lo.
Somente o silêncio diante do estranhamento
da vida que se passa, sem possibilidade de detenção.
Guardo meus sortimentos na caixa.
Cuidadosamente.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sinônimo de amor feinho

À L.F
Quisera eu ser o arauto
a proclamar um daqueles
amores
su-bli-mes
mas sou pequena
e só conheço o amor
cotidiano
(que é sinônimo do amor feinho)
que é todo feito de espasmos,
água com sal
e assombramentos
em todos os dias.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Aprendiz

El sonido de sus letras
Hacen vibraciones
En mi cuerpo
Las palabras acarician mi piel
Alcanzan mis sentidos
En éxtasis me vuelvo
En busca del racional.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Instantâneo feminino

- “Sua filha é linda”
- Foi tão difícil, meses tentando.
- Olha ela chorou!
- Escutou minha voz, mamãe já vai. Criança quando chora é fome ou sono.
- Crescem tão rápido. Só tenho sobrinhas, já moças.
- Você partiu meu coração agora, dói pensar nela grande

Do olhar-se (nº 1)

Despi-me das vestes
Que cobrem
Minhas vergonhas
Meus pudores
Agora é o corpo
Essa crueza
Na frente do espelho
O vinco
A pele
O estranhamento
Dos músculos
De si
Dos dias que passam
Da imagem que se projeta
E daquela que está introjetada
.

Sensação visual

A luz oblíqua
Recobre as casas
As ruas
As pessoas
Uma luz amarelada
que se anuncia
todos os dias
próximo as cinco da tarde.
É esmaecida
Com tons sépia
Desgastada pelos anos,
É única.
Próximo as seis
Por detrás daquele alto
Se retira.
Já tendo me penetrado.

Das inutilidades escritas e ditas

Estes dedos

só conseguem teclar

preguiçosamente

as linhas

em estado de auto-avaliação

egocentrismo

só sei falar daquilo que vejo

através

olho-mágico

de mim mesmo.

expiação

do ser.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Da modorrice

O ar, o vento, esse tempo
Resseca-me por dentro
Não há brisas.

A modorra dessa paisagem
Me embrutece
Previsibilidade
Do senhor na esquina,
Da mulher a limpar a calçada.
segunda-feira,
terça-feira,
quarta-feira,
quinta-feira,
sexta-feira,
sábado,
domingo
sucessão
de dias.
Regressão
de mim.
Morte do meu olhar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Maternidade – preparatório

Há certos dias do mês,
em que todos os pequeninos
saltam-me ao colo.
Antes era de amiúdo
esse estranho acontecimento,
dia a dia ficou freqüente.

Sobre as coisas ocultas

Escondo-me.
Cada palavra
redigida no escuro,
por debaixo da coberta.
Escondem-se
todas as palavras
esquivam-se de minhas mãos;
quando consigo por ventura capturar,
tal ser anímico,
não há jeito,
não a forma,
de ordenar,
impor ritmo,
precisão.
Minha retina captura
A menina
O velho
A mãe
A briga
A correria
Os gritos
O algodão-doce
O beijo de língua
Dias de volúpia.

Hoje é dia branco.

Floração

Um roxo intenso,
É tanto roxo, que enche minha pupila
Chega a ser vulgar tanta cor,
Mas é passar e virar para ver o roxo
Às vezes, meu olhar se detém,
Tempos indefinidos
Quanta cor!
Quanta cor!
Em certos períodos do ano,
Meu caminhar fica mais longo,
Porque me demoro,
Quanta cor!
Quanto roxo!
Beleza explicita
Como mulher no verão
Impossível não se notar,
O roxo impregna meu corpo
De tal forma,
Que sinto a cor virar cheiro
Um cheiro de colônia doce,
Dessas que ficam por muitos dias
Agarradas junto ao corpo.

Quanta cor!
Quanto roxo!

Polifonia

Um único som...
Feito de vários sons,
Vibração no ar...
Arrepio no corpo,
Som
Som
Som
Musica
Um único som
Feito de vários sons
Sons
Percorrer o som,
Sentir
O grave,
O sussurro
Su-
ssu-
rro
O agudo
Gritante
O homem
A mulher
O velho
A criança
Vozes
Varias vozes
Que percorrem
O vazio
Transpassam meu corpo
Arrepio
Lágrima...
Deleite.

Som
Silêncio.

Casinha

Des-tra-me-lei
As portas...

Des-tra-me-lei
As janelas...

Tudo aberto.

Os retratos na parede
me espionavam,
Os enfeites de porcelana
sempre no mesmo lugar.
Era a sala de visita sem visita.

As camas de mola
Pula-pula, pula-pula...
Na noite sempre fria
Cobertas pesadas
daquelas tecidas no tear
(que sapecavam).
Estranhamente uma porta,
Nunca aberta... que dava para o quarto do padrinho.

O banco de madeira
Um dos primeiros trabalhos de papai
(repetidamente escutei essa história).
Por horas, ali sentados a conversar.

Gostava de andar por essa parte da casa,
O piso de madeira chiava....

Mas era na cozinha grande
com o fogão de lenha sempre aceso,
o cheiro de café e quitandas...
são tantos cheiros...tantos gostos
É onde sempre estava vovó...
tão pequena ...
com tanta vastidão ao seu redor.
Foi ela quem pos em minha mão
o pintinho-doente... para mim foi assombroso,
nunca conseguia pegar nenhum.
(tão macio)

O quintal era tão grande...
(ou me parecia)
Cenário de minhas brincadeiras.

Tra-me-lei
as janelas

Tra-me-lei
as portas.

Já não abrem mais.



O que consome

Sinto uma quentura na nuca;
até as palavras escorrem leitosas.
A casa está vazia;
Não há ninguém,
Não há nada.
Não há sons.
Só esse torpor
Parasita de mim;
é por esse verme
que passo os dias querendo prolongar as noites;
e as vezes ao meio da tarde
meu estomago embrulha até eu chorar.
O parasita de mim faz-me pequena diante do mundo,
não sei matá-lo.

Uma coletânea

O Desacanhamento poético virou um pequeno ebook... tentei organizar a produção ao longo desses dez anos! É algo pequeno, mas uma forma de ...