quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Ritual

Por sobre minha pele
Deslizo essa base.

É preciso cobrir
acnes
rugas
olheiras
cicatrizes.

É possível cobrir o tempo?

Não posso carregar a passagem do tempo?

É preciso carregar o fardo da beleza.

É preciso que eu esteja sempre insatisfeita,
Me perdendo por entre imagens sensuais,
entre selfies tão distantes da mulher real.

Não cabe ser real no mundo?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Sobre ler e apreender

(Para Giorge Bessoni)

Quando você me diz que tenho muitas recorrências
quase sempre sobre a incompletude e a inadequação,
há aí um desnudamento,
uma compreensão sobre coisas que me fundam.

como pode escrever ser tão paradoxal?
lhe digo que é um ato-segredo
quase sempre uma forma de me organizar
em pura descompressão,
ao mesmo tempo desejo que o outro leia.
|você me apreendeu, é ainda mais raro|
Desejos entre ocultar e exibir.
Você sabe resolver esse paradoxo?

Perdoe-me se às vezes lotei seu aplicativo
de mensagens,
meu desejo de descompressão em certas ocasiões é incontrolável.
|posso ser muito cansativa|
Quando você dedica seu tempo para essas linhas,
|quando cada vez temos menos tempo|
lança seu olhar e dá novos sentidos,
o que por um momento foi um ato-segredo,
passa a ser seu,
ganha vida em você.

E por que poesia?
Já me perguntei tantas vezes isso,
parece que poesia comporta melhor o ato-ânsia de expurgo,
o instantâneo é tão familiar para a poesia.

Quando você me apreende,
é sempre algo entre abismo e provocação.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Uma cama e dois universos

Meu amor,
você dorme tão rápido

te olho assim em segredo,
quando não consigo dormir
tenho demorado cada vez mais
[será a idade inversamente proporcional ao sono?]

Em ato do meu pequeno segredo,
sua respiração cadenciada,
a barriga virada para baixo
os gestos rituais.

Em uma cama,
Cabem tantas batalhas.
Algumas de puro prazer,
Outras de dor
Muitas de lágrimas
Uma cama
Quando compartilhada
é território.

Em ato do meu pequeno segredo,
te apreendo mas é sempre fugaz,
nunca inteiro,
posso te amar
mas conviverei com a incompletude da minha apreensão.

Veja meu bem,
uma única cama
cabem dois infinitos universos nesse espaço tão reduzido,
insondáveis por natureza.
pode que em nosso convívio eu te revele algumas galáxias,
você permita minhas sondas em alguns planetas
mas sempre será um mistério.

Será isso algo entre desejo e maldição?

Meu bem,
é o dia que chega
estou tão cansada.
Meu corpo ficou aqui a noite toda, mas minha alma percorreu milhares de quilômetros,
Seus olhos me sorriem.

Uma coletânea

O Desacanhamento poético virou um pequeno ebook... tentei organizar a produção ao longo desses dez anos! É algo pequeno, mas uma forma de ...