quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Fármaco poético

( Para Dalton Castro)

Toda poesia é uma tentativa:
recorrente de esvaziar um tanto de si,
agitar os sedimentos depositados no fundo.
Por que se escreve?
Necessidade vital de burilar a palavra
pra sair figurinhas cheias de insignificâncias.
Há as vezes cansaço
burilar a palavra ocupa muita parte do tempo,
é preciso se esforçar para não esquecer,
tem horas que se quer esquecer e não se pode,
tem horas que se quer lembrar mas já passou
e o que ficou é um vago esboço do que se pretendia.
tem horas em que se quer largar mas a coisa vai crescendo
e você não presta pra mais nada,
daí a coisa sai em qualquer lugar, as vezes como um borrão.
Pode ser da poesia, ser um tanto terapêutica.


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Poemeto sobre o dia a dia

Cada dia a casa se faz,
mais lar
com as invariáveis pistas de que há moradores
na cozinha, sala, quartos e banheiro.
Miudezinhas cotidianas
o sentir que se amplia para caber no limite do abraço.


Apreender um tanto de si e do outro todos os dias.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Lições poéticas - do lugar da poesia

“ Porque a maneira de reduzir o isolado que somos dentro de nós mesmos, rodeados de distâncias e lembranças é botando enchimento nas palavras.”
Manuel de Barros – Lides de campear


Poesia sai do oco das gentes.
de forma que nasceu com a humanidade. Dos jeitos de escrever é o mais velho.
Poesia anciã da palavra.
de forma que a poesia é dada a humildades.
                               importante são os modos de imaginar.

                Poesia é precisão
                como que de ar, água, comida e etc...
                é  ampliar-se na existência

                escutando o silêncio de si. 

terça-feira, 31 de março de 2015

Lições poéticas

  As coisas que não levam a nada
   Tem grande importância
              Manoel de Barros – Matéria de poesia


...Quanto mais poesia há na vistas maiores se tornam as coisas pequenas.
Parece que a poesia tem assanhamentos pelas causas despercebidas...

 Houve um tempo que me fizeram crer que poesia era causa catedrática.
de métrica , rima, versos
era a poesia vestida de traje de gala.
( eu já queria tirar a roupa da poesia mas precisava de muito esforço pra desembrulhar)
 Nesse tempo achava que a poesia só olhava o importante.
tenho nada de importante.

Nem sei de quando começou
(vagas me lembram que foi lentamente)
a poesia foi afrouxando o traje de gala,
falando das coisas miudinhas,
vi tanta graça que fui arrebatado.

... pode ser a origem desses meus achamentos de poeta ...


sexta-feira, 13 de março de 2015

Domesticidades

Entre a mulher que sou
e a casa que se faz
há vagos de espaços
demoradamente preenchidos
como se tulhas fossem.
Ao fim do dia quando tu chegas

casa se aquece em branda chama.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Pequena crônica poética – fluminenses

Primeiro foram os morros,
Insurgências do oco da terra,
os homens galgam os morros com as casas,
relações abstratas de apoio.
Alguns foram tingidos em cinza
outros, resistem ainda verdes.

Relevo de desenho pouco útil
| como viu Elizabeth Bishop|
De arredondados libidinosos

olho fica cheio de assanhamento.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Poeminha confessional

Ouvi a confissão de minha irmã
Pouco capturei desses algoritmos.

com o olhar cheio de compreensões mudas
laços familiares,
lhe digo que pouco tenho da rigidez do número.
Assombros vieram sempre das palavras.


Palavra é desdobrável. 

sábado, 10 de janeiro de 2015

Pequena crônica poética – a caixa amplificadora

Enxerguei os sons do brejo,
repositório orquestral...
 silêncios são faixas do inaudível.


Quando a luz do dia vai sumindo
volumes sonoros se abrandam.
Notas silenciais são agudas.


Desejos de guardar os sons,
como a concha guarda o som do mar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Dos traços paternos

Poucos traços seus 
Desenham os traços meus
Seus traços, sombras no meu rosto.

De herança,  os modos seus
 ao longe o sorriso frente a espera ansiada da menina, 
  [as mesmas banalidades invisíveis que tento capturar]
as quinquilharias são de grande estima 
para cada coisa uma história,
sentido dos objetos, alma de lugar.
[ teimo em diminuir minhas tralhas mas permanecem as coleções de papeizinhos                  avulsos por dentro dos cadernos de notas desimportantes] 
A música sua é avarandada para a rua,
busca de ouvintes, 
sua observância enxerga os gostos 
a marchinha do quarto centenário era do vizinho da esquina.
Pode ser o violão elegante
mas é sempre a sanfona que acende as almas.
            [ nenhum som amplifico. Música sua transformada em sentido de apreciação,
as modas sertanejas e a singeleza
formaram o território poético]

Os anos que passam em nós
aproximam os modos,
e se por vezes os modos meus são diversos
a matéria essencial é o modo seu.

Uma coletânea

O Desacanhamento poético virou um pequeno ebook... tentei organizar a produção ao longo desses dez anos! É algo pequeno, mas uma forma de ...