Ontem vi,
A nuvem grávida,
de um arco-íris.
Era assim bem pequenino
reluzia as bordas brancas
com tons nascentes multicoloridos
tive vontade de fazer o parto da nuvem.
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Alguma coisa entre carta e crônica
Por vezes as palavras escolhem morar
na minha cabeça, ficam lá em ato de germinação. Pode ser bem complicado ficar grávida por
tempo indeterminado, uma longa e solitária gravidez poética. Há vezes em que a
coisa cresce a um ponto que é preciso sentar para parir as criaturas. Por vezes
aborto as criaturas, alguns são espontâneos, há palavras que se perdem nos vãos
da mente, me entristeço são as coisas que quase foram (no sentido de existir)
mas não resistiram e morrem antes do nascimento. Mas há o aborto consciente
quando a criatura sai e chega a ocupar a tela branca e por um segundo decido
sobre a existência, pronto deletei, sem esforço e com o mesmo pesar por impedir
a permanência dela no mundo.
Começo a falar dessa gravidez das
palavras porque faz algum tempo em uma amiga me disse uma coisa, o tipo de
coisa que você escuta e guarda pra si, repetindo com medo de esquecer. Ela me
falou que estava numa fase em que a melancolia não prestava, não prestava nem
pra poesia. Fiquei grávida desde então...
Não sei como é ficar grávida de
gente, mas ficar grávida de palavra eu sei bem e gravidez poética é também estranho,
você fica lá sentindo as criaturas crescerem ocuparem os espaços da mente, como
se fosse inchando para dentro. E não se compartilha as dores da gravidez
poética, você fica lá pesando pra dentro convivendo com a germinação na sua
mente.
Estabelecer
relações na qual é possível compartilhar uma gravidez poética é tão raro. É uma
forma de poder esvaziar um pouco dessa coisa que cresce e pesa. É raro, muito
raro ...
A melancolia permite um estado de
inadequação em relação ao mundo que é essencial para o fazer poético. É difícil
treinar a inadequação quando há muito gozo, mas é possível, é preciso olhar bem
as aleluias cotidianas para burilar e aí pelo sentido do olhar inadequado
transformar num outra coisa pulsante. Acho que é coisa que vem com o tempo mesmo.
É preciso melancolia pouca ou muita
pra germinar poesia? Eu não sei, mas eu sei que passa pelo estado “do nem
alegre nem triste” até a possibilidade da completa desolação. Quando a tinta da
escrita é feita de matéria tão pessoal é um risco permanente. Por que correr
esse risco por algo que não tem utilidade e que anda cada vez mais em desuso?
Eu não sei, mas acho que quando isso é tão intrínseco a sua forma de estar e
ser no mundo, não tem jeito você ficará ali sempre a espera da gravidez
poética.
Mas tem vezes em que se fica assim
como num engasgo, ‘’ você até quer, mas não pode ’’, foi a resposta de Adélia
Prado ao ser questionada pelo silêncio poético por anos. Ela disse ser o estado
da aridez.
Acho que todos enfrentam estados de
aridez seja em qual atividade for. Estar na aridez é solitário e não há nada mais
difícil que caber na própria solidão. Mas pode ser que os olhos só vejam aridez,
sequidão, porém lá em baixo onde nossa compreensão não alcança ficam as
sementes germinando lentamente, minhocas arejando o solo e o tempo adubando.
Às vezes é preciso chegar no árido,
onde parece que nada brota para preparar solo novo.
terça-feira, 7 de junho de 2016
Pequena crônica poética – a cidade do som
Esta não é uma cidade para se guardar
pelos olhos.
Amar pelos olhos é fácil.
A cidade de dois rios, uma linha e
relevo intumescente
será guardada pela exceção:
o som metálico da máquina a mover-se
pelos trilhos.
Música do deslocamento.
À noite quando em estado insone,
posso ouvir.
Por vezes o som mistura-se nos sonhos,
É meu desvario libertar o som
Torná-lo incorpóreo.
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