sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ensinamentos antoninos

Antonino de puro cerne
ensinou-me
entre duas pessoas
deve caber certos silêncios
medida para o amor.

De tanto saber de árvore
Adquiriu modos de carvalho,
[esses modos que a gramática não ensina
vem vindo com o sentimento.]

No seu ofício
traçava nos papeizinhos
com minúsculos lápis
todos os detalhes.
Jeitos de aprender na mente
rigor milimétrico.

Por ser um pouco árvore
guardava a fé
oração tão grande
ia pondo as gentes nas contas do rosário
silenciosamente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Colóquio infantil

( para Vilma)

Havia a mulher que detinha os poderes da cria,
as escadas chegavam ao reino.
Das mãos esticou a grama,
pelos pés brotaram os coqueiros.
Todo seu corpo ficava desenhando criações
( muitos ajeitamentos)
sua voz virava arara
ou outro bicho de asa.

Os coqueiros muitos
Rebrilhavam o sol nas folhas.
( não se usava despertador nesse reino)
Certos jeitos do sol bater
falam para os olhos abrirem.

Todos os dias deveriam ser sábados
(as folhas brilhariam para mim).

Certo dia,
menina desce a escadas
olha e sem nenhum espanto:
- Há criaturas também na cozinha?


Sim, sempre há criaturas por onde a mulher cria passa.

sábado, 2 de agosto de 2014

Astronomia da criança

                                   ( para Jamária )


Tão extensa  à noite para meus adultos olhos,
cabe sempre o espanto em cada mirada
meus adultos olhos compreendem vagamente
corpos celestes, estrelas mortas, via láctea, satélites, translação, rotação.

Nos pequenos olhos infantis
espanto, diante do negro salpicado de pontinhos brilhantes,
vira certeza após testes de mudança de direção,
- Mamãe a lua me segue por todo o mundo!
e os dedinhos em riste pleno de certezas.


Meus olhos adultos esquecem todas as constatações cientificas. 

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